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Produtores de Iuiu motivados com a cotonicultura irrigada

Pequenos produtores de algodão do sudoeste baiano e noroeste de Minas Gerais vem recuperando a produtividade e ganhando rentabilidade no cultivo do algodão, com a chegada de iniciativas de fomento à cotonicultura irrigada, entre eles o Projeto Tecendo Valor. O projeto é uma iniciativa da Fundação Solidaridad em parceria com o Instituto C&A.

Levantamento de dados feito pela Solidaridad em meados de 2016, apontou as regiões citadas como um dos poucos lugares no Brasil onde ainda se tem o cultivo do algodão plantado na modalidade de agricultura familiar. Com a implantação do projeto Tecendo Valor, os produtores contemplados na seleção receberam 52 UTDs – Unidades Técnicas Demonstrativas, com irrigação suplementar, já instaladas em suas propriedades. Além das unidades os beneficiados recebem assistência técnica agronômica especializada em desenvolvimento de modelo sustentável para os pequenos produtores, visando atingir alta produtividade, com rentabilidade satisfatória na produção de algodão.

O produtor do município de Iuiu Eudes Lélis Neves não esconde sua satisfação com as orientações recebidas da assistência técnica. Eudes relata o alto gasto com água utilizada anteriormente através do sistema de aspersão e desde a implantação do projeto tem notado a economia no consumo de água e conseguiu baixar o custo de energia elétrica utilizada na lavoura irrigada. “O técnico deu direção para o trabalho. A colheita anterior que não passava de 80 arrobas ou até 30, hoje se fala em 200 a 250 arrobas de algodão irrigado por hectare”. A participação da família de Eudes na lavoura envolve em torno de 8 pessoas, todos dispostos a fazer uso dos novos recursos, seguindo as recomendações técnicas em sua propriedade.

Os produtores são atendidos periodicamente com uma série de encontros técnicos regionais, realizados em cada unidade instalada, com o objetivo de promover a integração de todos os participantes envolvidos no projeto. Nesses encontros eles tem a oportunidade de adquirir novas experiências com as orientações passadas pela equipe de assistência técnica, que visa a alta produtividade e rentabilidade para os produtores de algodão sustentável.

Harry van der Vliet, gestor do projeto, explica que “o formato de assistência técnica adotado pelo projeto Tecendo Valor segue o que há de mais eficaz na transferência de conhecimento agrícola, notadamente a metodologia chamada “Farmer To Farmer” (Produtor para Produtor). Os técnicos estimulam os debates entre os produtores e guiam as conversas com contribuições técnicas quando necessário”.

Os produtores envolvidos no projeto Tecendo Valor estão localizados nos municípios baianos de Malhada, Carinhanha, Iuiu, Guanambi, Sebastião Laranjeiras, Igaporã e Lagoa Real e nos municípios de Catuti, Mato Verde, Monte Azul, Gameleiras e Pai Pedro em Minas Gerais.

Com a implantação do projeto nas propriedades beneficiadas, a equipe de assistência técnica relata uma expressiva demanda por conhecimento técnico especializado em algodão de alta tecnologia, para a produção do algodão sustentável. Essa demanda está aos poucos sendo suprida pela atuação da equipe de assistência técnica, amplamente preparada para a capacitação dos produtores.

A incidência do aumento da praga do bicudo vem sendo debatida nos encontros técnicos, devido ao aumento do cultivo do algodão de soqueira predominante na região, reforçando a necessidade de ação coordenada para o combate à praga, a exemplo do que existe no oeste baiano.

O produtor Ademivaldo Martins Leão que tem propriedade localizada na região da Serra de João Alves, município de Malhada/BA, está satisfeito com o conhecimento técnico adquirido da equipe. “A safra só não apresentou um resultado melhor por conta do forte ataque da praga do bicudo em minha lavoura”. A elevada tarifa de custo com energia elétrica no manejo da água para irrigação também foi outro fator que afetou o resultado da safra na propriedade de Ademivaldo.

Para José Tiburcio Carvalho Filho, gerente da Coopercat – Cooperativa de Catuti – MG, o ataque do bicudo foi o maior problema enfrentado na safra, em relação aos anos anteriores. O técnico destaca a necessidade de maior vigilância nas safras futuras, para evitar um novo ataque do bicudo na lavoura que se aproxima. “A praga chegou a reduzir as produtividades entre 70 e 80% em safras anteriores, isso por despreparo de alguns produtores, por não acreditar que ela sinaliza o principal fator de alerta que requer elevado cuidado, porque pode além de reduzir, ainda aumentar o custo de produção da lavoura”. Em relação aos resultados da safra o que deixou o técnico Tiburcio bastante motivado foi a qualidade do produto, onde o algodão irrigado foi o diferencial em termos de qualidade e quantidade, que é tudo que o mercado exige do produto.

“Já superamos o volume de algodão irrigado, comparado ao de sequeiro e isso nos aponta um caminho bem diferenciado, para poder trabalhar com a cultura numa performance melhor”, comemora Tiburcio.

IRRIGAÇÃO SUPLEMENTAR

O projeto Tecendo Valor trabalha com o fomento à irrigação suplementar do algodão, devido a escassez de chuvas predominantes nos últimos anos nas duas regiões. O algodão irrigado demanda alta tecnologia de produção que os produtores não estavam acostumados a utilizar. Com a aplicação correta dos insumos adequados para o plantio e as orientações recebidas pela assistência técnica especializada na área, os resultados surpreenderam os produtores na última safra com uma colheita em torno de 220 arrobas e pico de 306 por hectare, o que pode ser considerado muito bom, tendo em vista o ataque severo da praga do bicudo que assola a cultura na região.

O técnico Jairo Prado está na frente da pasta de coordenação de assistência técnica do município de Iuiu, e aposta na revitalização da lavoura na região com a chegada do projeto. Prado ressalta que a escassez de chuva causou declive da lavoura até então, e a iniciativa da Fundação Solidaridad trouxe conhecimento técnico, controle fitossanitário da lavoura, além da introdução dos produtores na cultura do cooperativismo que lança a ideia da formação de opinião e difusão de ideias em sua comunidade.

A inovação na tecnologia apresentada pelo projeto foi um diferencial apontado pelo assistente técnico da Solidaridad Cleriston Montalvan, que ver na qualificação dos produtores a oportunidade de manter as famílias em suas propriedades de maneira sustentável. Cleriston enfatiza que todo conhecimento que chega é bem recebido e o pequeno produtor se adapta facilmente às novidades, tendo em vista as melhorias em suas propriedades e a qualidade de vida que tais benfeitorias vêm proporcionar às suas famílias.

Para o gestor do projeto Tecendo Valor Harry van der Vliet a assistência técnica especializada é de suma importância. A lavoura de algodão não é fácil de ser conduzida. O algodoeiro é uma planta complicada no que diz respeito a seu manejo, em especial a regulação do crescimento, pois reflete diretamente na produtividade e sendo a lavoura irrigada o potencial de altas produtividades, e por consequência boas rentabilidades, pode ser considerado excelente.

Além da boa rentabilidade Harry destaca que a lavoura de algodão tem alto valor agregado. O produtor familiar consegue em um hectare obter um resultado financeiro muito acima da média alcançada em outras culturas, como é o caso da soja e do milho.